segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fim dos tempos

A febre do emprego terminou. Após recordes de geração de vagas no Brasil as maiores agências de empregos do país, empresas e especialistas projetam próximos meses de freio nas contratações e até demissões devido aos baixos índices de crescimento no país.


A expectativa é que sejam mais afetados os profissionais menos qualificados, porém, mesmo os mais qualificados devem sofrer nos setores mais fracos. A boa notícia é que a desaceleração de empregos será lenta, com piores resultados apenas em 2015.


Nas estatísticas oficiais o saldo menor de geração de empregos (diferença entre contratações e desligamentos) já aparece. Segundo o Ministério do Trabalho, no acumulado de janeiro a julho foram criados 907.214 postos formais, pior resultado para o período desde 2009, ano de eclosão da crise financeira internacional. Isso representa também uma queda de 33,5% frente ao mesmo período do ano passado, quando foram abertas 1,36 milhão de vagas.


Foram criadas em julho, último mês medido pelo ministério, 41.463 novas vagas formais – uma queda de 70,9% em relação ao mesmo mês de 2012, quando foram criadas 142.496 vagas. O resultado de julho é o pior registrado para meses de julho desde 2003 – quando a abertura de vagas formais somou 37.233.


Os números mostrados pelo IBGE (Instituto Brasileiro Geografia Estatística) ainda são bons, mas já se vê desaceleração também. A taxa de desocupação foi estimada em 5,6% em julho, com queda 0,4 ponto percentual em relação ao resultado apurado em junho (6,0%). Em comparação a julho de 2012 (5,4%), a taxa se manteve estável. A população desocupada (1,4 milhão de pessoas) ficou estável em comparação com junho e também em relação a julho de 2012. A população ocupada (23,1 milhões) ficou estável em relação a junho.


Cimar Azeredo, gerente da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE, esclarece que o órgão não faz qualquer projeção do futuro por regras internas, mas explica que tradicionalmente o índice de desocupação tem sazonalidades no Brasil: devido ao décimo terceiro salário e festas de fim de ano ou porque menos pessoas procuram trabalho, o desemprego é menor nos meses de novembro e dezembro e depois sobe em janeiro e fevereiro. “A pequena queda de junho para julho também era esperada, já que a produção já se começa a se preparar para o fim de ano”, diz.


Porém, olhando dados mais antigos, Azeredo detecta também uma desaceleração. Por exemplo, ele cita que a variação do número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado vinha crescendo forte em 2009-2010 (7,2%) e 2010-2011 (6,8%), mas em 2011-2012 (3,7%) já mostrou queda. “Houve uma queda no ritmo, sem dúvida, fruto do cenário econômico, mas ainda temos crescimento”, ressalta.


A explicação dos analistas para a manutenção de um cenário próximo do pleno emprego tão persistente no país se deve a condições do mercado de trabalho e demográficas. De acordo com José Pastore, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), uma soma de fatores contribui para isso, como o baixo crescimento da população economicamente ativa, mais jovens preferindo estudar do que trabalhar, crescimento do mercado interno de consumo, retenção das empresas para evitar custos altos de demissão e dificuldades de encontrar mão de obra qualificada.


“São fatores que contam muito. Em decorrência da forte queda da taxa de fecundidade há duas, três décadas, há menos jovens buscando emprego. Muitos retardam a entrada no mercado de trabalho porque estudam mais tempo. Os idosos com mais de 60 anos estão se retirando mais cedo. Em todos os grupos cresce o número de empreendedores, o que também reduz a pressão por emprego”, comenta.


Escada rolante

Os números de empregados com carteira assinada contratados já viveram anos recentes de recordes, como em 2010, que fechou em 2,86 milhões. Marcelo Cuellar, gerente da consultoria de treinamento Michael Page, vê essa situação muito diferente neste ano entre seus clientes.


“Haviam muitos projetos e uma demanda absurda por profissionais como engenheiros até meados do ano passado. Hoje, já tenho casos de consultores e outros profissionais que ficam em casa esperando tarefas. Não há demissões, mas também não há contratações em grande número. A situação parece alguém tentando subir numa escada rolante que só desce, não há crescimento”, comenta.


O tímido crescimento da economia brasileira em 2011 (2,7%) e no ano passado (0,9%) é o motivo principal apontado. O último relatório Focus, pesquisa do Banco Central entre mais de cem instituições financeiras, prevê alta de 2,32% neste ano no PIB.


Marcelo Ferrari, gerente de novos negócios da consultoria Mercer, aponta que, além do país estar crescendo menos, investe pouco em infraestrutura e tem políticas empresariais que não são claras, o que leva ao adiamento de projetos. Segundo ele, além do crescimento menor dos empregos neste ano o cenário do país também alongou o tempo de reposição dos profissionais, com processos de seleção mais criteriosos e demorados, e também foram diminuídas as políticas agressivas de contratação.


“Em 2010, ainda víamos empresas fazendo loucuras, como o oferecimento de salários 50%, 100% maiores para tirar um funcionário de uma empresa, e ainda oferecendo gordos bônus e luvas. Isso diminuiu muito”, afirma.

Segundo pesquisa do Hay Group em 450 empresas brasileiras e multinacionais no país, os diretores das companhias tiveram seus ICP (incentivos de curto prazo), como bônus e participação nos lucros e resultados, caindo de uma média de 7,9 para 5,2 salários extras entre 2011 e 2012. Já para a alta gerência, o ICP passou de 4,3 para 3,6 salários e, para a gerência, de 3,2 para 2,7 salários.


Formas de negociar salários

Para a diretora executiva da Quality Training Recursos Humanos, Marisa Ayub, se acreditou que o país poderia sustentar a grande demanda imediata de novas contratações por mais tempo, mas os desequilíbrios na economia impediram isso. Ela afirma que os setores que hoje estão em baixa produtividade, como industrial, extração mineral e até parte do comércio, poderão sentir mais.


Quando o crédito no país estava mais barato e o endividamento do consumidor estava menor, até trabalhadores pouco qualificados estavam sendo contratados. O problema é que esses profissionais são pouco produtivos e por isso é necessário a contratação de vários para realizar as funções numa empresa. Com a economia em baixa essa situação ficou insustentável.


Nessa nova realidade, o profissional que quiser manter seu emprego ou ainda ter condição de negociar salários deve ser mais produtivo. “A tendência no país hoje é se fazer contratações de pessoas cujo o desempenho seja relevante e com o máximo grau de competência profissional para se ter mais assertividade e não continuar com quadros de empregados inchados”, comenta Ayub.


Ela orienta que os profissionais mais estáveis devem ser, de agora em diante, aqueles capazes de cumprir metas, apresentar resultados e que por sua formação e experiência possam ser mais produtivos. E os caminhos inevitáveis para isso são a capacitação e o conhecimento do seu ramo de atuação.


É essa conduta que a relações públicas Camila Leite Bastos, 29, afirma estar seguindo. Ela já trabalhou com marketing e "branding" (gestão de marcas), áreas ainda aquecidas no Brasil, mas que, segundo ela, já estão perto da saturação de profissionais, por isso neste ano fez um curso de "design thinking", que são técnicas para gerar inovação por meio da empatia entre as pessoas, da colaboração e da experimentação.


Hoje ela trabalha na consultoria de inovação social Design Echos e viu na qualificação uma forma de ser mais assertiva. “Fui em busca de maneiras de melhorar a execução de meus projetos, ter mais rapidez e eficácia. Acho muito importante não se acomodar”, diz.


Para Juliano Ballarotti, diretor da Hays em São Paulo, o Brasil tem problemas também com profissionais que são qualificados, mas não necessariamente produtivos. “O profissional deve ficar atento sobre a necessidade de sua formação para o mercado de trabalho. Não adianta todo mundo ter graduação ou pós, não que isso não seja bom, mas o mercado procura primeiro aqueles com uma educação para exercer funções específicas. Os técnicos serão cada vez mais valorizados”, relata.


Foi com uma pesquisa das funções procuradas pelas empresas que Leandro Lopes, 30, conseguiu voltar ao mercado de trabalho em maio. Ele trabalhava com manutenção de impressoras de códigos de barras, mas perdeu o emprego.


“Eu procurei um curso para ampliar minhas possibilidades de trabalho e soube da opção de trabalhar com impressoras multifuncionais. Está virando uma tendência as empresas alugarem impressoras para diminuírem gastos, então tem muito trabalho disponível.”


O curso de três meses, manutenção e montagem de copiadoras e multifuncionais, foi feito de graça por Lopes na Etec (Escola Técnica Estadual) de Arthur Alvim, dentro do programa estadual Via Rápida do Emprego. Ele foi contratado por uma empresa de “outsourcing” (terceirização) de impressoras e chega a atender sete clientes por dia.


O que vem por aí

A avaliação de especialistas e economistas é que a desaceleração do emprego será lenta neste ano e no próximo. O pesquisador da área de economia aplicada da FGV/Ibre e economista, Fernando de Holanda Barbosa Filho, observa que até setores que estavam segurando o desemprego ano passado, como o comércio e serviços, perderam força neste ano e quem deve começar a sofrer primeiro serão os trabalhadores menos qualificados.


“No período de recordes de emprego muitos destes até conseguiram voltar ao mercado de trabalho, agora isso deve cessar. O desemprego atinge primeiro essa classe trabalhadores menos qualificados, isso é esperado. Aconteceu recentemente isso na crise norte americana.”


Para tentar reverter essa dificuldade programas como o PEQ (Programa Estadual de Qualificação Profissional) esperam uma maior demanda em 2013. Ano passado foram 6.144 vagas e neste estão disponíveis 7.800. A auxiliar de departamento pessoal Jaqueline Baradel, 41, está desempregada desde o começo do ano e resolveu fazer dois cursos de uma vez para voltar ao mercado: auxiliar de departamento pessoal e técnico em contabilidade na Etec Irmã Agostina.


“O nível de exigência das empresas está muito grande e pedem uma constante atualização de informações técnicas. Fiz esses cursos porque realmente as empresas nem te chamam para uma entrevista se você não tiver o básico.”


A decisão de contratar está muito ligada a uma percepção de confiança na economia por parte das empresas. Fabiane Cardoso, gerente nacional de qualidade e serviços da consultoria Adecco, afirma que as as companhias precisam se sentir seguras para aumentarem seus investimentos e consequentemente suas capacidades de produções e inovações, e isto impacta diretamente em aumentar o quadro de funcionários, gerando mais empregos, e quando o mercado não se mostra totalmente seguro as empresas não investem nestes fatores e passam a não gerar novos postos de trabalho, e algumas até, mais conservadoras, preferem reduzir custos já se antecipando a um cenário negativo, e reduzem o número de postos de trabalho dentro da organização.


“Tudo vai depender do cenário econômico dos próximos meses, é difícil predizer exatamente como ficará o grau de desaceleração, mas é evidente que não atingiremos tão cedo os índices de emprego de anos recentes, quando muita gente conseguiu trabalho e alguns puderam até escolher por melhores posições e salários migrando de uma empresa para outra”, lembra Cardoso.


Na opinião do professor Pastore os índices gerais baixos de desemprego devem durar até meados de 2014 ou início de 2015 pelos motivos demográficos do país e por causa das eleições ano que vem, as quais devem estimular medidas governamentais de crédito, desonerações e apoio aos eventos esportivos. Barbosa Filho também concorda com o prazo, ao citar que historicamente os primeiros anos de governos federais são marcados por fortes ajustes fiscais (limitação de despesas).


“A desaceleração deve ocorrer quando forem tomadas medidas de ajuste forte na economia – o que deve ser a partir de novembro de 2014, após as eleições. Se o necessário ajuste for feito, o impacto no mercado de trabalho será sensível. Teremos forte redução da criação de emprego com reflexos no desemprego”, comenta Pastore.

Hering alerta
A fabricante de têxteis Cia Hering em 2012 teve problemas na operação, com crescimento de 9%, resultado abaixo do esperado. Além do crescimento menor da economia brasileira, a companhia também teve problemas com a ausência do frio no ano passado.

Alessandra Morrison, diretora de gestão de pessoas da Cia. Hering, conta que isso levou a empresa a não pagar PLR (Participação nos Lucros e Resultados), já que não atingiu seus resultados esperados.

Para tentar um ano melhor em 2013 a empresa revisou vários de seus processos para ter mais eficiência e também mexeu em seus processos de avaliação de funcionários e contratação, deixando-os mais extensos.

"Não perdemos colaboradores, mas passamos a ter um processo de avaliação do desempenho mais detalhado. Usamos o modelo 360º, que cruza informações do que o funcionário entrega e sobre a forma como ele produz. Isso mostra mais sobre a qualidade da produção e aumenta o feedback. É um modelo já implantado desde as seleções de contratação", diz.

A empresa tem estruturas de indústria, varejo e administrativa e possui cerca de 8.500 funcionários. Segundo Morrison, não há planos de demissões este ano e continua a meta de abrir 77 lojas Hering Store e 30 lojas Hering Kids no ano, porém, as avaliações de produtividade ficaram mais rígidas.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Pesquisa de negócios internacionais

Paul Radu, do projeto Reportagens de Crime Organizado e Corrupção, da Romênia, criou o VIS, um site específico para jornalistas. Lá, eles podem criar um “banco de dados visual”, customizável, para mapear ligações financeiras e pessoais. Se duas pessoas adicionarem uma mesma empresa ou pessoa, ambas recebem um alerta. Segundo Paul, quase sempre há ligações entre banco de dados diferentes.

Outra produção dele é o Investigative Dashboard. O portal é colaborativo e ajuda jornalistas em pesquisas sobre crime organizado e corrupção pelo mundo. Há registros de negócios nacionais do Panamá, Luxemburgo, Suíça e outros países. É possível buscar por companhias e pessoas.

Radu e Marty Steffens da Universidade de Missouri apresentaram no Brasil outras ferramentas de busca

O Internacional Monetary Fund mostra as atividades financeiras de 188 países.

O Search Systems é um portal especializado na busca de pessoas. Ele mantém mais de 55 mil bancos de dados divididos por nascimento, morte, casamentos, licenças, ações, hipotecas, além de outras. Tem dados dos EUA, Europa, México, Canadá e alguns outros países. Possui alguns dados do Brasil ou mostra links para consegui-los
O Zaba também busca pessoas, mas apenas nos EUA

A Interpol mostra lista de pessoas desaparecidas e outras procuradas por governos de diversos países

Pelo International Maritime Organization é possível rastrear grandes navios por todo o mundo, além de poder entrar em contato com a área administrativa de muitos deles

A pwc tem uma pesquisa sobre crimes financeiros, mas dados são de 2011



Fonte: Congresso Internacional da Abraji