terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Profissão: testar o futuro


Sair na frente e criar uma ferramenta ou serviço tecnológico que seja comprado por milhões. Todas as companhias sonham com isso e investem em modelos de profissionais de TI (tecnologia da informação) que estão em alta no mercado de trabalho por serem uma espécie de “testadores do futuro”.

A Cisco, multinacional de soluções para redes e comunicações, por exemplo, abriu neste ano um centro de inovação no Rio de Janeiro que simula ambientes reais como um hospital, escola, sala de aula, plataforma de petróleo e centro de monitoramento de segurança pública. Por softwares e materiais trazidos de cada espaço são desenvolvidos novas formas de produtividade, monitoramento e usos sustentáveis.

O diretor de engenharia da Cisco, Marcelo Ehalt, 42, explica que, no caso dos hospitais, é estudado como melhorar o atendimento em uma maca pelo uso de atendimento remoto e equipamentos que medem em tempo real os sinais vitais de uma pessoa.

“Costumo dizer que agimos nas verticais, procurando novas formas de inserir melhorias em todos os processos de uma empresa parceira e sempre de olho nas transições de tecnologia, econômicas e sociais.”

Ehalt é formado em ciência da computação na PUC-PR e continua estudando até hoje em especializações, treinamentos, seminários e fóruns de discussão. “Isso é vital em nosso ramo de atuação porque temos que fazer parcerias com diferentes setores para criar as soluções”, completa.

Futuristas
O campo de atuação desses profissionais tecnológicos é muito mais desenvolvido nos EUA. Lá a Cisco chama de futurista o chefe de tecnologia da unidade de internet da companhia, Dave Evans. Ele é responsável por brincar e testar todos os “gadgets” (apetrechos eletrônicos) mais recentes do mercado para ajudar a criar dispositivos. Ele cursou ciências da computação e engenharia da computação na Universidade San José State. Em 23 anos de carreira ele previu e ajudou a desenvolver itens como a internet das coisas, impressoras 3D e carros que dirigem sozinhos. Atualmente ele aposta no surgimento de redes de dados baseadas em física quântica, que possibilitariam fazer computadores minúsculos e incrivelmente rápidos.

Também com um pé no futuro e atuando já no presente existem os profissionais especializados em “big data” (análise de grandes volumes de dados). Esse é um mercado considerado muito promissor em todo mundo. A consultoria Gartner prevê que os gastos globais com soluções nessa área alcançarão US$ 34 bilhões em 2013 e vão pular para US$ 232 bilhões em 2016.
A IBM no Brasil criou uma equipe especializada em big data e espera que esse mercado cresça até entre médias empresas. A explicação para essa demanda tão alta está na peculiaridade do que é fornecido: a análise de quantidades imensas de dados pode traçar perfis para o futuro e guiar melhor as decisões. Isso é chamado de modelagem preditiva, isto é, técnicas para aprender padrões ocultos em grandes volumes de dados históricos. Após ser validado, o modelo consegue generalizar o conhecimento aprendido e aplicá-lo a uma nova situação.

A gerente de análise de recursos naturais, Bianca Zadrozny, 36, por exemplo, fez trabalhos para diminuir os custos e aumentar a eficiência de uma fornecedora de energia. Foram analisados um longo histórico dos dados meteorológicos, de consumo de energia e dos hábitos dos consumidores. Com o cruzamento dessas informações foi possível descobrir qual seria a demanda aproximada em cada dia do ano e com isso ajustar o fornecimento e o planejamento.

“Os clientes trazem para nós só os problemas e cabe a nós buscar soluções depois de analisar os dados gerados pela própria companhia e os externos. É um trabalho em que entram as técnicas estatísticas e de tecnologia e também a criatividade e a abertura para trabalhar com várias áreas do conhecimento.”

O especialista máximo na função é chamado de cientista de dados. Muitas empresas também preferem aplicar o “big data” utilizando uma equipe multidisciplinar, formada por estatísticos, especialistas em TI para criar ferramentas de computação e os da área de design, responsáveis por traduzir visualmente as análises de dados. Zadrozny é formada em engenharia de computação na PUC-RJ e tem mestrado e doutorado na Universidade da California em “machine learning”, que são as técnicas para um computador aprender padrões a partir de dados lidos.

Valoriza-se também no profissional de big data saber programar em softwares de análises de dados como o Python, R e SAS.

Abertura para empreender
Essas novas carreiras de tecnologia também abrem a possibilidade de modelos de trabalho mais flexíveis em termos de horários e projetos. O diretor de empreendedorismo da Fiap, Marcelo Nakagawa, comenta que as inovações tecnológicas sempre criaram na história da humanidade novos setores e mercados e, por consequência, novas formas de trabalho. Para ele, o atual cenário se beneficia da mistura das possibilidades que a internet e as tecnologias móveis trazem.

“Temos muitos profissionais de tecnologia que hoje trabalham como autônomos e empreendedores mais facilmente por causa de um paradoxo: a tecnologia é muito presente na nossa sociedade, mas está cada vez mais invisível e vemos só seu resultado. Isso cria muita oportunidade para quem tem disposição em analisar as tecnologias e criar novos produtos e serviços.”

Uma das tecnologias invisíveis de hoje são os algoritmos (série de comandos matemáticos) nos códigos de programação dos sites de busca. Diariamente bilhões de pessoas usam eles para encontrar as mais variadas informações, que são ordenadas e ranqueadas pelos algoritmos. Uma informação ou produto bem colocada nos sites de busca pode representar lucros milionários para as marcas. Porém, o código dos algoritmos é secreto e demanda análises técnicas para ser decifrado em parte. O motor de buscas mais popular do mundo, o Google, por exemplo, lançou um novo algoritmo em setembro, o “Hummingbird” (beija-flor), sem informar muitos detalhes. Mas segundo analistas deve ser voltado para valorizar mais os conteúdos relevantes e buscas por voz e em dispositivos móveis.

Esses analistas são chamados de especialistas em SEO (search engine optimization ou otimização de motor de pesquisa). Fábio Ricotta, 28, começou há 10 anos a trabalhar com isso e acabou criando sua própria empresa, a Agência Mestre. Seu trabalho consiste em muitos testes de desempenho de sites nos motores de busca, fazendo a mudança de muitos títulos, palavras, textos, links e imagens para descobrir o que é melhor ranqueado ou procurado pelos internautas.

“Os algoritmos de busca são uma espécie de caixa preta. Com muito trabalho e até 'feeling' você acaba descobrindo como funcionam e antecipando tendências.”

Sua agência tem 43 pessoas e os trabalhos são feitos em regime de consultoria, com contratos em média de 12 meses. Os funcionários tem no mínimo dois dias de “home office” e o mercado também tem muitos que trabalham como “free-lancers”.

Ricotta é formado em ciência da computação pela Universidade Federal de Itajubá. Ele diz que é melhor que os profissionais de SEO tenham pelo menos conhecimentos de linguagem de programação, por isso a maioria tem formações como engenharia da computação e análise de sistemas, mas também conhece formados em advocacia, jornalismo e até odontologia que se apaixonaram pela área e procuraram cursos livres para se qualificarem.

Parcerias a com academia
Esse trabalho em busca de tecnologias do futuro é muito calcado nos países desenvolvidos em parcerias entre o setor privado e a academia. Por exemplo, John Krumm, pesquisador-chefe do Microsoft Research, que fica em Redmond (EUA), fez um trabalho ano passado com o pesquisador Adam Sadilek, do departamento de ciência da computação da Universidade de Rochester. Chamado de projeto “Far Out” ele consiste em acompanhar pessoas usando um dispositivo GPS e estudar a sua rotina. Com essas informações é possível "adivinhar" com precisão as suas localizações futuras. Isso deve ajudar a prever informações como aumentos populacionais, disseminação de doenças, problemas de tráfego e necessidades de banda larga.

Krumm afirma que mais pesquisas continuam a serem feitas, mas ainda não foram disponibilizados produtos ou serviços. O objetivo inicial era ver se é mesmo possível fazer previsões precisas, a longo prazo, o que poderia ser a base de muitas aplicações diferentes. Foram estudados os dados de GPS de 32.000 dias com 307 pessoas. Ele cita uma aplicação comercial de geolocalização, baseado na rota provável do usuário.

“Nós podemos fazer previsões mais precisas se olharmos menos de uma hora no futuro. Meus colegas e eu criamos também depois uma pesquisa focada em um aplicativo de busca móvel que utiliza a previsão de localização da pessoa no futuro. Quando você está se movendo em um veículo você pode procurar pizza e o programa vai mostrar os locais de venda que estão à sua frente em vez de para trás. Em todo o nosso trabalho de investigação sobre a previsão local, a nossa descoberta mais surpreendente é que as pessoas são realmente muito previsíveis.”

Para o professor Seiji Isotani, que atua na área de desenvolvimento de software e transferência de tecnologia do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP São Carlos, é praticamente indispensável que o profissional de tecnologia hoje busque se aproximar do setor privado desde a época de estudante, tanto para melhorar sua formação como para impulsionar sua carreira. Isso pode ser feito com a apresentação de projetos ou visitas em encontros comerciais ou de empreendedorismo.

Ele, por exemplo, estudou e trabalhou durante cerca de cinco anos no Japão e nos EUA e viu como essas parcerias são importantes. “A visão da necessidade de unir a computação com a engenharia, de criar sistemas embarcados nos mais variados produtos e até dos computadores vestíveis já são muito fortes no setor privado e ter conhecimentos disso ajuda muito o estudante.”

Para Isotani as universidades brasileiras de tecnologia estão em transformação para se adaptar a esse novo cenário, se abrindo mais ao setor privado, mudando seus currículos com aulas com alguns conteúdos das ciências humanas e criando aberturas multiculturais. “Mas ainda há avanços necessários. A burocracia ainda atrasa parcerias. Por exemplo, apenas a documentação para parcerias com uma indústria leva de seis a oito meses nas universidades e também os professores são impedidos de serem sócios em start-ups [empresas iniciantes de base tecnológica]”, ressalta.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fim dos tempos

A febre do emprego terminou. Após recordes de geração de vagas no Brasil as maiores agências de empregos do país, empresas e especialistas projetam próximos meses de freio nas contratações e até demissões devido aos baixos índices de crescimento no país.


A expectativa é que sejam mais afetados os profissionais menos qualificados, porém, mesmo os mais qualificados devem sofrer nos setores mais fracos. A boa notícia é que a desaceleração de empregos será lenta, com piores resultados apenas em 2015.


Nas estatísticas oficiais o saldo menor de geração de empregos (diferença entre contratações e desligamentos) já aparece. Segundo o Ministério do Trabalho, no acumulado de janeiro a julho foram criados 907.214 postos formais, pior resultado para o período desde 2009, ano de eclosão da crise financeira internacional. Isso representa também uma queda de 33,5% frente ao mesmo período do ano passado, quando foram abertas 1,36 milhão de vagas.


Foram criadas em julho, último mês medido pelo ministério, 41.463 novas vagas formais – uma queda de 70,9% em relação ao mesmo mês de 2012, quando foram criadas 142.496 vagas. O resultado de julho é o pior registrado para meses de julho desde 2003 – quando a abertura de vagas formais somou 37.233.


Os números mostrados pelo IBGE (Instituto Brasileiro Geografia Estatística) ainda são bons, mas já se vê desaceleração também. A taxa de desocupação foi estimada em 5,6% em julho, com queda 0,4 ponto percentual em relação ao resultado apurado em junho (6,0%). Em comparação a julho de 2012 (5,4%), a taxa se manteve estável. A população desocupada (1,4 milhão de pessoas) ficou estável em comparação com junho e também em relação a julho de 2012. A população ocupada (23,1 milhões) ficou estável em relação a junho.


Cimar Azeredo, gerente da PME (Pesquisa Mensal de Emprego) do IBGE, esclarece que o órgão não faz qualquer projeção do futuro por regras internas, mas explica que tradicionalmente o índice de desocupação tem sazonalidades no Brasil: devido ao décimo terceiro salário e festas de fim de ano ou porque menos pessoas procuram trabalho, o desemprego é menor nos meses de novembro e dezembro e depois sobe em janeiro e fevereiro. “A pequena queda de junho para julho também era esperada, já que a produção já se começa a se preparar para o fim de ano”, diz.


Porém, olhando dados mais antigos, Azeredo detecta também uma desaceleração. Por exemplo, ele cita que a variação do número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado vinha crescendo forte em 2009-2010 (7,2%) e 2010-2011 (6,8%), mas em 2011-2012 (3,7%) já mostrou queda. “Houve uma queda no ritmo, sem dúvida, fruto do cenário econômico, mas ainda temos crescimento”, ressalta.


A explicação dos analistas para a manutenção de um cenário próximo do pleno emprego tão persistente no país se deve a condições do mercado de trabalho e demográficas. De acordo com José Pastore, professor da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), uma soma de fatores contribui para isso, como o baixo crescimento da população economicamente ativa, mais jovens preferindo estudar do que trabalhar, crescimento do mercado interno de consumo, retenção das empresas para evitar custos altos de demissão e dificuldades de encontrar mão de obra qualificada.


“São fatores que contam muito. Em decorrência da forte queda da taxa de fecundidade há duas, três décadas, há menos jovens buscando emprego. Muitos retardam a entrada no mercado de trabalho porque estudam mais tempo. Os idosos com mais de 60 anos estão se retirando mais cedo. Em todos os grupos cresce o número de empreendedores, o que também reduz a pressão por emprego”, comenta.


Escada rolante

Os números de empregados com carteira assinada contratados já viveram anos recentes de recordes, como em 2010, que fechou em 2,86 milhões. Marcelo Cuellar, gerente da consultoria de treinamento Michael Page, vê essa situação muito diferente neste ano entre seus clientes.


“Haviam muitos projetos e uma demanda absurda por profissionais como engenheiros até meados do ano passado. Hoje, já tenho casos de consultores e outros profissionais que ficam em casa esperando tarefas. Não há demissões, mas também não há contratações em grande número. A situação parece alguém tentando subir numa escada rolante que só desce, não há crescimento”, comenta.


O tímido crescimento da economia brasileira em 2011 (2,7%) e no ano passado (0,9%) é o motivo principal apontado. O último relatório Focus, pesquisa do Banco Central entre mais de cem instituições financeiras, prevê alta de 2,32% neste ano no PIB.


Marcelo Ferrari, gerente de novos negócios da consultoria Mercer, aponta que, além do país estar crescendo menos, investe pouco em infraestrutura e tem políticas empresariais que não são claras, o que leva ao adiamento de projetos. Segundo ele, além do crescimento menor dos empregos neste ano o cenário do país também alongou o tempo de reposição dos profissionais, com processos de seleção mais criteriosos e demorados, e também foram diminuídas as políticas agressivas de contratação.


“Em 2010, ainda víamos empresas fazendo loucuras, como o oferecimento de salários 50%, 100% maiores para tirar um funcionário de uma empresa, e ainda oferecendo gordos bônus e luvas. Isso diminuiu muito”, afirma.

Segundo pesquisa do Hay Group em 450 empresas brasileiras e multinacionais no país, os diretores das companhias tiveram seus ICP (incentivos de curto prazo), como bônus e participação nos lucros e resultados, caindo de uma média de 7,9 para 5,2 salários extras entre 2011 e 2012. Já para a alta gerência, o ICP passou de 4,3 para 3,6 salários e, para a gerência, de 3,2 para 2,7 salários.


Formas de negociar salários

Para a diretora executiva da Quality Training Recursos Humanos, Marisa Ayub, se acreditou que o país poderia sustentar a grande demanda imediata de novas contratações por mais tempo, mas os desequilíbrios na economia impediram isso. Ela afirma que os setores que hoje estão em baixa produtividade, como industrial, extração mineral e até parte do comércio, poderão sentir mais.


Quando o crédito no país estava mais barato e o endividamento do consumidor estava menor, até trabalhadores pouco qualificados estavam sendo contratados. O problema é que esses profissionais são pouco produtivos e por isso é necessário a contratação de vários para realizar as funções numa empresa. Com a economia em baixa essa situação ficou insustentável.


Nessa nova realidade, o profissional que quiser manter seu emprego ou ainda ter condição de negociar salários deve ser mais produtivo. “A tendência no país hoje é se fazer contratações de pessoas cujo o desempenho seja relevante e com o máximo grau de competência profissional para se ter mais assertividade e não continuar com quadros de empregados inchados”, comenta Ayub.


Ela orienta que os profissionais mais estáveis devem ser, de agora em diante, aqueles capazes de cumprir metas, apresentar resultados e que por sua formação e experiência possam ser mais produtivos. E os caminhos inevitáveis para isso são a capacitação e o conhecimento do seu ramo de atuação.


É essa conduta que a relações públicas Camila Leite Bastos, 29, afirma estar seguindo. Ela já trabalhou com marketing e "branding" (gestão de marcas), áreas ainda aquecidas no Brasil, mas que, segundo ela, já estão perto da saturação de profissionais, por isso neste ano fez um curso de "design thinking", que são técnicas para gerar inovação por meio da empatia entre as pessoas, da colaboração e da experimentação.


Hoje ela trabalha na consultoria de inovação social Design Echos e viu na qualificação uma forma de ser mais assertiva. “Fui em busca de maneiras de melhorar a execução de meus projetos, ter mais rapidez e eficácia. Acho muito importante não se acomodar”, diz.


Para Juliano Ballarotti, diretor da Hays em São Paulo, o Brasil tem problemas também com profissionais que são qualificados, mas não necessariamente produtivos. “O profissional deve ficar atento sobre a necessidade de sua formação para o mercado de trabalho. Não adianta todo mundo ter graduação ou pós, não que isso não seja bom, mas o mercado procura primeiro aqueles com uma educação para exercer funções específicas. Os técnicos serão cada vez mais valorizados”, relata.


Foi com uma pesquisa das funções procuradas pelas empresas que Leandro Lopes, 30, conseguiu voltar ao mercado de trabalho em maio. Ele trabalhava com manutenção de impressoras de códigos de barras, mas perdeu o emprego.


“Eu procurei um curso para ampliar minhas possibilidades de trabalho e soube da opção de trabalhar com impressoras multifuncionais. Está virando uma tendência as empresas alugarem impressoras para diminuírem gastos, então tem muito trabalho disponível.”


O curso de três meses, manutenção e montagem de copiadoras e multifuncionais, foi feito de graça por Lopes na Etec (Escola Técnica Estadual) de Arthur Alvim, dentro do programa estadual Via Rápida do Emprego. Ele foi contratado por uma empresa de “outsourcing” (terceirização) de impressoras e chega a atender sete clientes por dia.


O que vem por aí

A avaliação de especialistas e economistas é que a desaceleração do emprego será lenta neste ano e no próximo. O pesquisador da área de economia aplicada da FGV/Ibre e economista, Fernando de Holanda Barbosa Filho, observa que até setores que estavam segurando o desemprego ano passado, como o comércio e serviços, perderam força neste ano e quem deve começar a sofrer primeiro serão os trabalhadores menos qualificados.


“No período de recordes de emprego muitos destes até conseguiram voltar ao mercado de trabalho, agora isso deve cessar. O desemprego atinge primeiro essa classe trabalhadores menos qualificados, isso é esperado. Aconteceu recentemente isso na crise norte americana.”


Para tentar reverter essa dificuldade programas como o PEQ (Programa Estadual de Qualificação Profissional) esperam uma maior demanda em 2013. Ano passado foram 6.144 vagas e neste estão disponíveis 7.800. A auxiliar de departamento pessoal Jaqueline Baradel, 41, está desempregada desde o começo do ano e resolveu fazer dois cursos de uma vez para voltar ao mercado: auxiliar de departamento pessoal e técnico em contabilidade na Etec Irmã Agostina.


“O nível de exigência das empresas está muito grande e pedem uma constante atualização de informações técnicas. Fiz esses cursos porque realmente as empresas nem te chamam para uma entrevista se você não tiver o básico.”


A decisão de contratar está muito ligada a uma percepção de confiança na economia por parte das empresas. Fabiane Cardoso, gerente nacional de qualidade e serviços da consultoria Adecco, afirma que as as companhias precisam se sentir seguras para aumentarem seus investimentos e consequentemente suas capacidades de produções e inovações, e isto impacta diretamente em aumentar o quadro de funcionários, gerando mais empregos, e quando o mercado não se mostra totalmente seguro as empresas não investem nestes fatores e passam a não gerar novos postos de trabalho, e algumas até, mais conservadoras, preferem reduzir custos já se antecipando a um cenário negativo, e reduzem o número de postos de trabalho dentro da organização.


“Tudo vai depender do cenário econômico dos próximos meses, é difícil predizer exatamente como ficará o grau de desaceleração, mas é evidente que não atingiremos tão cedo os índices de emprego de anos recentes, quando muita gente conseguiu trabalho e alguns puderam até escolher por melhores posições e salários migrando de uma empresa para outra”, lembra Cardoso.


Na opinião do professor Pastore os índices gerais baixos de desemprego devem durar até meados de 2014 ou início de 2015 pelos motivos demográficos do país e por causa das eleições ano que vem, as quais devem estimular medidas governamentais de crédito, desonerações e apoio aos eventos esportivos. Barbosa Filho também concorda com o prazo, ao citar que historicamente os primeiros anos de governos federais são marcados por fortes ajustes fiscais (limitação de despesas).


“A desaceleração deve ocorrer quando forem tomadas medidas de ajuste forte na economia – o que deve ser a partir de novembro de 2014, após as eleições. Se o necessário ajuste for feito, o impacto no mercado de trabalho será sensível. Teremos forte redução da criação de emprego com reflexos no desemprego”, comenta Pastore.

Hering alerta
A fabricante de têxteis Cia Hering em 2012 teve problemas na operação, com crescimento de 9%, resultado abaixo do esperado. Além do crescimento menor da economia brasileira, a companhia também teve problemas com a ausência do frio no ano passado.

Alessandra Morrison, diretora de gestão de pessoas da Cia. Hering, conta que isso levou a empresa a não pagar PLR (Participação nos Lucros e Resultados), já que não atingiu seus resultados esperados.

Para tentar um ano melhor em 2013 a empresa revisou vários de seus processos para ter mais eficiência e também mexeu em seus processos de avaliação de funcionários e contratação, deixando-os mais extensos.

"Não perdemos colaboradores, mas passamos a ter um processo de avaliação do desempenho mais detalhado. Usamos o modelo 360º, que cruza informações do que o funcionário entrega e sobre a forma como ele produz. Isso mostra mais sobre a qualidade da produção e aumenta o feedback. É um modelo já implantado desde as seleções de contratação", diz.

A empresa tem estruturas de indústria, varejo e administrativa e possui cerca de 8.500 funcionários. Segundo Morrison, não há planos de demissões este ano e continua a meta de abrir 77 lojas Hering Store e 30 lojas Hering Kids no ano, porém, as avaliações de produtividade ficaram mais rígidas.


quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Pesquisa de negócios internacionais

Paul Radu, do projeto Reportagens de Crime Organizado e Corrupção, da Romênia, criou o VIS, um site específico para jornalistas. Lá, eles podem criar um “banco de dados visual”, customizável, para mapear ligações financeiras e pessoais. Se duas pessoas adicionarem uma mesma empresa ou pessoa, ambas recebem um alerta. Segundo Paul, quase sempre há ligações entre banco de dados diferentes.

Outra produção dele é o Investigative Dashboard. O portal é colaborativo e ajuda jornalistas em pesquisas sobre crime organizado e corrupção pelo mundo. Há registros de negócios nacionais do Panamá, Luxemburgo, Suíça e outros países. É possível buscar por companhias e pessoas.

Radu e Marty Steffens da Universidade de Missouri apresentaram no Brasil outras ferramentas de busca

O Internacional Monetary Fund mostra as atividades financeiras de 188 países.

O Search Systems é um portal especializado na busca de pessoas. Ele mantém mais de 55 mil bancos de dados divididos por nascimento, morte, casamentos, licenças, ações, hipotecas, além de outras. Tem dados dos EUA, Europa, México, Canadá e alguns outros países. Possui alguns dados do Brasil ou mostra links para consegui-los
O Zaba também busca pessoas, mas apenas nos EUA

A Interpol mostra lista de pessoas desaparecidas e outras procuradas por governos de diversos países

Pelo International Maritime Organization é possível rastrear grandes navios por todo o mundo, além de poder entrar em contato com a área administrativa de muitos deles

A pwc tem uma pesquisa sobre crimes financeiros, mas dados são de 2011



Fonte: Congresso Internacional da Abraji

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Conheça algumas formas para pagar menos impostos

No direito tributário com o uso da teoria da interpretação econômica dos fatos também se pode buscar artifícios que diminuam o peso do impostos. Mas todas as estratégias jurídicas ou de gestão precisam primeiramente ter uma motivação econômica e um propósito negocial, caso contrário o Fisco pode contestar. 

-> Proteção patrimonial - tirar patrimônio não vinculado a uma atividade produtiva do risco da sociedade. O patrimônio pode ser jogado em uma holding para administração de imóveis próprios

-> Otimização da produção - associação com outra empresa para produção aumentar. Isso pode afastar a ociosidade e ainda dividir pesos tributários

> Melhoria do fluxo de caixa - encurtar o ciclo financeiro para manutenção da atividade produtiva, podem ser feitas operações financeiras para isso e que cobram menos imposto. A redução do prazo médio do pagamento a prazo melhora o pagamento do PIS/Cofins e aproxima o contas a pagar e a receber

-> Segmentação financeira - atividades econômicas diferentes numa mesma empresa (com menos ou maior lucro), podem ser segmentadas e trabalhar em separado para usar um regime tributário diferente. É uma cisão parcial com CNPJ raiz

-> Investir em um novo mercado ou território - negócio pode ser reestruturado para pagar menos impostos com estudo dos aspectos territoriais

-> Distribuição de lucro X pro labore X JCP (juros sobre capital próprio)
Pro labore para os sócios, diretores - tem pagamento de 20% no INSS e na tabela progressiva do IR em até 27,5%, o que dá 47,5% e ganho de 6,5% para pessoa jurídica
Distribuição de lucros - não tem tributação para pessoa física e jurídica, mas não gera despesa dedutível de IR
JCP - remuneração ao acionista pelo dinheiro que ele está investindo na sociedade. Para quem paga é 34% de abatimento de imposto. Para quem recebe é 15% - se for pessoa física. Isso dá um saldo 19%, opção que pode ser mais vantajosa
Mas em pequenas empresas o sócio também costuma ser o administrador e deve-se lembrar que o diretor não trabalha sem remuneração, tem que ter um mínimo de pro labore

-> Adiar pagamento de tributo - ganha fluxo de caixa. Empresa de lucro presumido pode adotar para fins fiscais o regime de caixa - pode pagar seus impostos somente após ter recebido dos seus clientes. Não paga impostos sobre inadimplência também

-> Regularizar obrigações e compromissos fiscais - empresas que fazem prestação de serviços têm impostos retidos pelo pagador - tem que verificar se os impostos estão abatidos de sua tributação própria. E os cuidados em geral para regularizar a empresa evitam autuações

-> Venda imobilizado pela pessoa física ao invés da pessoa jurídica. A pessoa física paga capital de 15%. A pessoa jurídica de 34%. Isso pode ocorrer, por exemplo, com a desativação de uma filial. Mas a reorganização societária de ser feita antes e com uma antecedência de seis meses pelo menos

-> Consignação mercantil e industrial - exemplo, um cliente recebe remessa de mil unidades em consignação por contrato e só uma vez por mês verifica o que foi vendido e faz a tributação. Tem-se um ganho financeiro e temporal

-> Depreciação acelerada contábil - para empresa de lucro real. Produção em mais de um turno, aumenta a depreciação e a tributação pode ser menor

-> Contabilidade completa para empresa de lucro presumido – o lucro que pode ser distribuído: montante do lucro presumido menos os impostos

-> Lucros e dividendos de outra sociedade – situação como a de um dono da empresa A e B, não tem tributação se distribui o lucro para outra empresa. É uma redistribuição do lucro

Substituição Tributária nas pequenas empresas - pague duas vezes

O fato gerador do ICMS é a circulação de mercadorias. A ST (substituição tributária) tenta evitar as possíveis sonegações do tributo, principalmente no varejo. Normalmente, a cadeia comercial tem o fabricante, o distribuidor, o varejista e o consumidor final, ou seja, três ocasiões para cobrança do ICMS.

Os acordos de ST no país atuam de forma nacional, regional e local com regras que abrangem determinados produtos e áreas do país. Isso é feito se escolhendo o fabricante para cobrar todo o ICMS, ou seja, ele paga seu próprio imposto e mais o presumido do IVA (índice de valor adicionado) do varejo. E há também cobrança do ICMS quando as mercadorias circulam entre áreas diferentes do país com ST.

Um exemplo de como uma pequena empresa no regime tributário Simples paga o ICMS duas vezes por causa da ST. Pegue o exemplo de uma companhia paulista que tem um dos seus principais distribuidores  em Minas Gerais. O varejista quando faz essa compra paga o ICMS da alíquota normal do Simples (varia de 6,84% a 17,42%).

Seu distribuidor não paga o ICMS na saída da mercadoria se a venda for para Minas Gerais, porque a fábrica já pagou na fonte. Mas, em vendas para São Paulo existe um acordo para cobrar a ST, assim, o distribuidor é cobrado pelo ICMS na fonte paulista. Nesse caso, ele tem a permissão de cobrar do varejista de outro estado.

O varejista então também é cobrado em 6% sobre a margem de lucro da cadeia (18% do ICMS de São Paulo menos 12% do ICMS cobrado interestadual).