sábado, 28 de janeiro de 2012

Direto de Luxemburgo: O escândalo da estatística

A crise econômica na Europa também colocou em xeque os mecanismos de controle contábeis da Europa. Por aqui os europeus que visitamos admitiram a fraude estatística da Grécia, fato que desastabilizou todo o mercado de venda de títulos públicos da zona do euro.

Estivemos em Luxemburgo no Eurostat (http://epp.eurostat.ec.europa.eu/portal/page/portal/eurostat/home/), o equivalente na União Europeia ao nosso IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mas com algumas grandes diferenças. O inglês Tim Allen (não é o comediante, acredite), que ocupa o cargo de porta-voz do órgão, nos explicou que o Eurostat trabalha processando os dados que são coletados pelos institutos nacionais de pesquisas de cada um dos 27 países da União Europeia. Todo mês são divulgados números muito importantes como de inflação, PIB e do temido déficit público.

Tudo lindo, mas na prática deu errado. Na Grécia o Partido Conservador Nova Democracia, de Kostas Karamanlis (2004-2009), prosseguiu e agravou a gastança do Partido Socialista que o precedeu no comando do país. Lembre que a Grécia sediou as Olimpíadas de 2004 e precisou despender muito dinheiro para isso.

Em outubro de 2009, época de eclosão da crise do Lehman Brothers, o controle do país voltou para o Partido Socialista, agora com o primeiro-ministro George Papandreou. Foi aí que veio a público que o verdadeiro déficit público do país, de 15,7% do PIB, era mais do que o dobro do informado pelo governo anterior.

Mas como um país que tem descontrole de gastos foi aceito em 2001 na zona do euro e permanece até hoje? Vale lembrar que o critério para entrar é ter déficit público anual máximo apenas de 3% do PIB.

Sobre essas diferenças tão escandalosas Tim Allen evitou falar em fraude. Para o Eurostat "não houve má fé" no caso. Hoje a opinião do órgão europeu é que o instituto nacional de pesquisas da Grécia na época do estouro de gastos públicos era sem organização para coletar dados, além disso, não teria havido tempo suficiente para a realização das pesquisas.

No entanto, outros órgãos da União Europeia que visitamos não foram tão condencentes com a Grécia. Na mesma Luxemburgo, na Corte Europeia de Auditores, o auditor Juss Bright criticou o fato de até hoje o escândalo estatístico da Grécia não ter sido punido e questionou a independência dos órgãos de estatística europeus.

Em Bruxelas, na Comissão Europeia, a portuguesa Margarida Marques, diretora-geral de comunicação do órgão, chegou afirmar que a "Grécia mentiu deliberadamente". Ela comentou que isso foi muito grave porque no desenho da União Europeia e da zona do euro há uma interdependência dos países, por exemplo, há muitos bancos europeus credores da Grécia e os grandes países exportadores da Europa como a Alemanha têm receio de que sua balança comercial piore com o esfriamento do continente.

Segundo Tim Allen, a situação da Grécia trouxe também mudanças. O Eurostat enviou representantes para aquele país e também passou a ter poder de intervir em institutos nacionais de pesquisa quando necessário.

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