domingo, 20 de novembro de 2011

Oferta e demanda ‘manipulam’ custo de vida


Dentro do estado de São Paulo há cidades no Interior com o preço da cesta básica em R$ 156,54 (Bauru) e R$ 171 (Rio Preto/Jundiaí), diferença de 9%. Mas como o custo de vida pode variar assim entre cidades não tão distantes? A explicação técnica mais simples são as condições de oferta e demanda. E essas condições têm vários atores envolvidos que as “manipulam”.
                Entre os principais gastos de uma família há aqueles com preços fixados. No caso de transporte público, táxi, água e combustiveis temos a ação do Governo regulamentando as condições de oferta. Desta forma, as disposições contratuais afetam a oferta e as condições de precificação, podendo em alguns casos autorizar reajustes de preços que recuperem a inflação passada, ou seja, tenham maiores altas. “A administração pública local pode, portanto, autorizar mais ou menos licenças para taxis, pode subsidiar ou não os custos do transporte público, pode autorizar mais de uma empresa para fazer o saneamento público ou a distribuição de água”, diz a economista Cristina Helena Pinto de Melo, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).
                A localização geográfica é outro fator muito importante, já que interfere nos custos de transporte. Em algumas localidades não podemos produzir alguns dos bens consumidos. Desta forma, devemos adquirir esses bens de outras localidades. No Brasil os custos de transporte são muito significativos. “Estradas e combustível de qualidades ruins implicam em custos de manutenção e reposição mais rápida dos veículos encarecendo o transporte. Como alternativa para corrigir essas distorções, a cobrança de pedágios cria receitas para a manutenção das estradas, mas implica em custo de outra natureza. Trocamos um custo por outro”, comenta Cristina.
Trabalho
            A própria oferta de pessoas para trabalhar numa região é outro condicionante de vários preços. Estudos recentes, tais como o relatório Cities of Opportunity, da Consultoria PriceWaterhouseCoppers de 2010, associados com as informações de PIB (Produto Interno Bruto) e de população das cidades, bem como o City Development Strategies da UN-Habitat (United Nations Development Programme) indicam a importância das grandes metrópoles como pólos de crescimento, mas principalmente como centros agregadores de condições produtivas como mão de obra especializada.
            Concentrar mão de obra especializada ou centros de formação e mão de obra podem afetar os custos diretos de produção reduzindo ou ampliando os custos unitários e preços dos produtos.  A escassez de mão de obra tende a tornar os salários mais elevados tornando os custos e preços mais altos nos casos em que as empresas possuem algum poder de mercado e podem repassar esses custos ao consumidor.
            É notório que o Interior está se industrializando ou recebendo grandes pólos de varejo, empresas migram ou se instalam longe de grandes metrópoles para ter ganhos com menos impostos, aluguel e mais qualidade de vida. Mas isso também traz custos. Surge uma competição por contratar mão de obra, que cria o ambiente oportuno para observarmos o crescimento dos salários e o consequente repasse em toda a economia.
            Um exemplo comum dessa contaminação é o setor imobiliário. Maior população e maior renda implicam em mais lançamentos de imóveis, que podem ter seus preços elevados para se ajustar ao novo poder aquisitivo da população. Paralelo a isso, a oferta de imóveis também pode ser menor do que a procura, o que de novo aumenta preços. Por último, se o mercado está muito aquecido surge a especulação imobiliária.
            Saber quanto é o custo de vida de uma cidade é importante para fornecer às empresas parâmetros para definir os adicionais financeiros oferecidos aos empregados transferidos para uma localidade, bem como decidir se vale a pena ou não ter ou manter uma base em determinada cidade.
            Do lado do trabalhador, esse conhecimento é muito importante na hora de decidir uma mudança. “É correto sim afirmar que ao aceitar uma nova proposta de trabalho deva-se considerar não apenas os ganhos de salário, mas, também, o custo de vida da localidade. Escolas e alugueis mais baratos podem representar uma economia significativa e, portanto, um aumento no poder aquisitivo que equivale a um ganho de salário”, explica Cristina.

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